Fonte: G1
A África Ocidental enfrenta uma epidemia sem precedentes de ebola. Guiné, Libéria e Serra Leoa estão no epicentro da epidemia. Também houve casos na Nigéria e no Senegal, mas esses países foram declarados livres da doença em outubro.
O vírus também foi detectado nos Estados Unidos e na Espanha, país que registrou o primeiro caso de contaminação fora da África durante esta epidemia, que começou em março.
Causador da febre hemorrágica, o vírus é um dos mais mortais que existem. Ele mata até 90% dos infectados e ainda não há vacina nem medicamento disponível para uso na população.
Ele foi registrado nos primeiros seres humanos em 1976, em Yambuku, uma aldeia na República Democrática do Congo, às margens do Rio Ebola. Desde então, mais de 20 surtos da doenças ocorreram em países da África Central e Ocidental.
Veja abaixo perguntas e respostas sobre essa doença:
O Brasil já teve algum caso de ebola?
Não. Houve apenas um caso suspeito, registrado em outubro, mas exames descartaram a possibilidade de o paciente ter a doença.
O guineense Souleymane Bah saiu da Guiné no dia 18 de setembro e chegou ao Brasil no dia 19. Em 9 de outubro, ele procurou uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na cidade de Cascavel, no Paraná, depois de apresentar febre. Foi levado ao Rio de Janeiro em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e encaminhado ao Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, ligado à Fiocruz, referência em doenças infecciosas.
Seguindo o protocolo da Organização Mundial de Saúde, o guineense fez dois testes. Os dois deram negativo e o paciente teve alta.
O que é o ebola? Quais são os sintomas?
O ebola é uma doença grave causada por vírus. Ela é muitas vezes caracterizada pelo início súbito de febre, fraqueza intensa, dores musculares, dor de cabeça e dor de garganta. Depois vêm vômitos, diarreia, funções hepática e renal deficientes, erupções cutâneas, e, em alguns casos, sangramentos internos e externos, com interrupção do funcionamento dos órgãos.
Como é feito o diagnóstico?
Exames de laboratório que indicam a possibilidade de o paciente estar infectado incluem baixa de glóbulos brancos e de plaquetas e aumento das enzimas hepáticas. O teste definitivo para diagnosticar o ebola é chamado PCR. No Brasil, o Instituto Evandro Chagas, em Belém, é o único habilitado para receber as amostras de sangue dos pacientes e inativar o vírus. O período de incubação do vírus pode durar de dois dias a três semanas.
Como é o tratamento?
Não há medicamentos ou terapias específicas contra o ebola já aprovadas. Os pacientes recebem cuidados gerais para aliviar sintomas, como medicamento contra febre, hidratação e alimentação contínua. Há algumas terapias experimentais como a transfusão de sangue de pacientes que se curaram do ebola e drogas experimentais como ZMapp, TKM-Ebola, Brincidofovir e BCX4430, que ainda não passaram por todas as fases de pesquisa necessárias para aprovação
Como o vírus se espalha?
O ebola passa de uma pessoa para outra por contato direto com sangue contaminado, fluidos corporais ou órgãos, ou indiretamente, por meio do contato com ambientes contaminados. Os funerais daqueles que tinham a doença podem ser um risco, se as pessoas presentes têm contato direto com o corpo.
Seres humanos também podem pegar o vírus por meio do contato próximo com animais infectados, incluindo chimpanzés, gorilas, antílopes e morcegos que se alimentam de frutas. Os morcegos da família Pteropodidae são considerados os hospedeiros naturais da doença.
Onde ocorre a epidemia atualmente?
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o maior número de casos foi registrado na Libéria, seguido de Serra Leoa e Guiné. Nesses três países, o número de contaminados e mortos tem aumentado a cada novo balanço divulgado pela agência da ONU. Senegal e Nigéria também registraram ocorrências, mas já foram declarados livres da doença.
O primeiro caso diagnosticado nos Estados Unidos foi o do liberiano Thomas Eric Duncan. Ele visitava sua família no Estado do Texas quando sentiu os sintomas da doença. Ele morreu em um hospital de Dallas em 8 de outubro. Desde então, duas enfermeiras que trataram do paciente também foram diagnosticadas com a doença, Nina Pham e Amber Vinson. As duas se recuperaram e já tiveram alta.
Um médico americano, Craig Spencer, que atuou na Guiné cuidando de pacientes com ebola pela organização Médicos sem Fronteiras também foi diagnosticado com a doença nos Estados Unidos.
A Espanha registrou o primeiro caso de contágio do ebola fora da África nesta epidemia. A enfermeira Teresa Romero foi contaminada ao cuidar de dois missionários, também espanhóis, que contraíram a doença em Serra Leoa. Eles acabaram morrendo. A mulher está se recuperou e já teve alta.
Segundo Luis Gomes Sambo, diretor regional da OMS para a África, "o atual surto tem o potencial de se espalhar para fora dos países afetados e além da região se medidas urgentes e relevantes de contenção não forem postas em prática", acrescentou.
A doença pode ser levada de avião a outros países, espalhando a epidemia?
É possível que uma pessoa com ebola viaje de avião, mesmo a lugares distantes, já que a doença pode levar três semanas para se manifestar. No entanto, o professor William Shaffner, da Universidade Vanderbilt, nos EUA, em entrevista ao site americano LiveScience, apontou que não é muito provável que essa doença se espalhe da forma como tem ocorrido nos países africanos se os serviços de saúde agirem de forma a isolar as pessoas contaminadas.
“Os serviços médicos ocidentais provavelmente lidariam relativamente bem em ‘capturar' o ebola quando ele chegasse, porque estaríamos cientes de que as pessoas vieram de áreas afetadas”. Ele destaca que para ser contaminado é preciso ter contato próximo com uma pessoa doente, com troca de fluidos corporais. “Estar com a mesma pessoa num só ambiente, por si só, não é perigoso”.
Há necessidade de fechar fronteiras e restringir voos por causa da epidemia?
A OMS, por enquanto, não recomenda restrições de viagens ou fechamento de fronteiras devido ao surto de ebola. Mesmo assim, a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, anunciou no dia 27 de julho o fechamento da maior parte das fronteiras terrestres do país, depois que o vírus se espalhou para duas das maiores cidades do oeste da África.
Por que nos países afetados a doença está se espalhando dessa maneira?
Um problema grave que fomenta a epidemia atualmente é que naquela região há hábitos tradicionais como lavar os cadáveres antes do funeral, o que gera um contato capaz de transmitir o ebola. A OMS já disse publicamente que essas práticas culturais "contribuem fortemente" para a epidemia. Além disso, há muito movimento de pessoas através das fronteiras de Guiné, Libéria e Serra Leoa, o que posssibilitou à epidemia se tornar internacional.